À
porta da escolinha o meu filho diz: vai ali o avô da L. e ele é totó! Eu disse
logo que não era bonito dizer isso de um senhor tão velhinho. Mas ele fica ali nas cadeiras a dormir de boca aberta (enquanto faz tempo para ir buscar as netas). Eu disse logo: Tu gostavas que
alguém chamasse um nome feio à bivó? que é tão querida. E ele diz: oh, mãe, eu
também não gosto muito da bivó. Não gosto de velhos!
E o meu coração parou e é
numa fracção de segundos que temos de pensar no que dizer.
Mas
não gostas porquê? Eu adoro a bivó, sabes? É a minha avó querida. E era ela que
me contava histórias e me ia buscar à escola quando eu tinha a tua idade. E a
bivó não foi sempre velhinha. Era linda quando era nova. E sabes que desde que
o bivô morreu que a avó está mais sozinha... E temos de aproveitar bem para
estar com ela, que adora ver-vos crescer, saber que a nossa família continua a
existir mesmo depois dela já cá não estar. Tenho tantas saudades do bivô... E
aqui emocionei-me. Ele ficou a ver as lágrimas escorrerem-me pelos olhos... E
Depois eu falei-lhe do filme do senhor velhinho, como ele diz, o Up, altamente,
que ele adorava, mas ele interrompeu: não me fales desse filme. Odeio. Nunca
mais o quero ver...
E
eu fiquei com a sensação que algo nele tinha mudado em relação à percepção da
morte... E depois fomos interrompidos por amigos que vinham a sair e ele foi brincar
mais um pouco na porta da escola.
Depois
comentei isto com o meu marido e ele diz que é normal. As pessoas mais velhas
estão sempre a pedir beijos, a dizer para cumprimentar se não é feio, que se
não come tudo é feio, as casas são tipo museu onde não se pode mexer nem tocar
à vontade... A minha avó, a bivó deles tem 92 anos e está muito bem de cabeça e
de corpo, está mesmo maravilhosa para a idade, mas claro, tem o rosto vincado
pelas rugas, o cabelo branco, não ouve muito bem... Houve uma altura que o
Afonso nem se aproximava... Eu acho-a linda e é a minha querida avozinha…
Eu
não o recriminei porque acho que não devemos criticar os sentimentos, ele tem o
direito de sentir isto (claro que não pode dizer à bivó, não pode ser mal
educado nem indelicado e afins), mas acho importante ele não se sentir julgado
para ter sempre confiança e segurança para me dizer o que sente. Em vez de o criticar,
falei-lhe dos meus sentimentos... pela avó e pelos velhinhos em geral.
E
vocês. já passaram por isto? O que fariam?
Mostra-lhe fotos de quando eram mais novos, e com os filhos pequenos para ele perceber a evolução! E talvez ensinando-lhe algo e depois dizer que foi a tua avó que te ensinou... Sei lá, difícil esta situacao!
ResponderEliminarOlá Isa, obrigada pela tua resposta. Mostar fotos antigas é gira... e o caldinho de natal que ele adora também é receita da bivó. Obrigada
EliminarEles ficam muito assustados com os velhotes porque são os que estão mais perto da morte e eles têm medo de morrer. Não fazem ideia do que é nem porque acontece. É simplesmente demasiado assustador, é o que os tira de perto dos pais, eles nem querem pensar nisso. Mais vale durante esta primeira infância nem tocar no assunto, ninguém morre. Depois com o tempo a "coisa" evolui naturalmente. Sou da opinião que não vale a pena criar-lhes esse stress adicional.
ResponderEliminareu também era assim, há 30 e tal anos atrás com a avó da minha mãe, a minha mãe conta que eu dizia que ela cheirava a xixi e estava suja (eram as tais rugas na cara)!!! Não sei como a minha mãe fez para contornar! Mas a verdade é que não gosto muito de beijos e talvez o teu marido tenha razão nesse aspecto. Não deve ser fácil para eles entenderem....
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