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A mãe que eu sou

No fim de semana passado conheci uma mãe que está em casa a tempo inteiro com os filhos por opção e por gosto. É encantador ouvi-la falar dos trabalhos, actividades e brincadeiras que faz com as crianças. Ao ouvi-la percebermos mesmo que ela está feliz com a opção que tomaram da mãe não trabalhar fora para ficar em casa com os dois filhos. E quanto mais eu a ouvia falar, mais consciência tinha que para mim não dava. O Afonso esteve praticamente até fazer um ano comigo em casa (começou creche aos 5 meses em Setembro para eu aceitar um trabalho de freelancer, esteve lá quatro meses sempre doente com bronquiolites, veio para casa 3 meses para ficar comigo, que em casa conciliava o trabalho com a maternidade, e depois voltou no mês que completava um ano e eu aceitei um projecto que me obrigava a trabalhar fora de casa).

Claro que foi muito bom estar em casa com o Afonso, claro que pude desfrutar dele e do irmão, que era o primeiro a sair da escola por volta das 16h30m, pude acompanhar bem de perto cada minutinho do Afonso, estar muito presente, brincar, tínhamos um ritmo próprio e sem correrias...  Eu era a mãe que ia deixar o filho grande sem pressas, de manhã, e que às 4 da tarde estava no parque infantil com eles, fazíamos tudo sem pressas e com muita disponibilidade física e mental da minha parte. Acredito mesmo que se tivesse outro filho não me importava nada de ficar com ele no primeiro ano para evitar doenças - os meus filhos têm muitos problemas respiratórios - e para aproveitarmos aquele primeiro ano da melhor maneira, ao mesmo tempo que também tinha mais disponibilidade para os outros dois filhos. 

Mas confesso, e penso que na altura escrevi sobre isso, para mim foi importante voltar a trabalhar fora de casa. E no fim de semana passado tive mesmo a certeza absoluta que não tenho feitio para estar só em casa a cuidar dos meus filhos. E não gosto nem mais nem menos dos meus filhos por isso. É feitio. Tem a ver com a natureza de cada uma de nós. 
  1. Eu preciso de sair de casa, preciso de trabalhar no que mais gosto, preciso de ver pessoas, de estar com adultos, de ser desafiada e estimulada em termos profissionais.
  2. Por motivos financeiros. Não tem a ver com o rendimento. (No nosso caso, podíamos viver com o ordenado do meu marido se retirássemos a escola dos miúdos, a empregada doméstica e os dois depósitos de gasóleo que eu gasto todos os meses para ir trabalhar.) Tem a ver com a minha independência financeira, que para mim é muito importante. 
  3. Detesto limpar, lavar, esfregar, passar a ferro. Sei fazer tudo, mas não gosto, é ingrato. Limpas agora e daqui a meia hora está tudo igual. Mas se deixasse de trabalhar fora para estar em casa com as crias passaria a ter de fazer todas as tarefas domésticas e isso seria um sofrimento. Acabaria com um posto de trabalho, o da minha querida S.
  4. Acho importante os miúdos andarem na creche e jardim de infância e conviverem. Mesmo tendo muitos primos direitos e em segundo grau, mesmo convivendo com os filhos dos nossos amigos acho importante o lado de socialização que as escolas permitem.
  5. Que justificação tinha eu para ir todas as semanas arranjar as unhas ao cabeleireiro? - neste momento o meu único vício e luxo - se depois iam passar os dias de molho na água e com plasticina verde. Andariam arranjadas, sim, mas por mim, em casa em tons leitosos e não em vermelhos garridos que falham ao mínimo descuido!
Eu sou assim. E estar aquele primeiro ano do Afonso sem trabalhar fora de casa fez-me perceber que a mim me faz falta a parte profissional. E tive ainda mais certeza ao ouvir a outra mãe falar. E ela estava tão feliz com a opção dela, não precisa de mais nada para se sentir realizada, mas eu preciso... Preciso do meu espaço fora de casa. E não pensem que vivo para o trabalho, longe disso, e para mim o segredo do equilíbrio é conseguir conciliar as duas vertentes. E quando aceitei este trabalho, onde ainda estou apesar de já ter concluído o projecto que vim fazer e esteja a desenvolver outro, uma das minhas condições foi gerir o meu tempo para ir buscar os meus filhos à escola e ter o final da tarde para eles. E tem sido possível cumprir. Vou buscá-los todos os dias às 17h30, de vez em quando consigo levar o mais velho ao piano, fico a trabalhar em casa se eles estão doentes... Claro que há alturas de mais stresses, de prazos apertados, de reuniões fora e de ausências de um dia ou dois, mas fazem parte da vida. Da minha e da deles. E temos todos de aprender a lidar com isso. Mas é tão bom o reencontro ao final da tarde quando contamos as nossas aventuras, partilhamos o melhor do nosso dia, o que comemos ao almoço... Os abraços de saudades, o estarmos de novo juntos. É tão bom. E é por isso que às vezes imagino que adorava estar sempre em casa com eles, mas depois caio em mim e sei que somos todos muito mais felizes assum!

Comentários

  1. Concordo tão, tão, tão completamente.......

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  2. Eu não posso mesmo ficar em casa com eles. Não tenho de todo essa opção, e acho que mesmo a tendo iria levá-los à crecehe em part-time.
    Estou muito a habituada a saber de mim, a ter independência e liberdade financeira. Lá em casa quem ganha mais é o marido, mas não o suficiente para os 5. Mas eu preciso de sair, de me sentir (mais) útil, de não ser "só" mãe e dona de casa.
    Agora...ter lá em casa uma ajudinha com as tarefas domésticas era o máximo :)
    bjs

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  3. lá em casa nunca ficou assente que eu ficaria em casa com elas, tal como tu também não me via feliz com uma vida assim. As coisas acabaram por acontecer mas de outra forma., Acabaram com o meu posto de trabalho e estou em casa e elas na escola, não pensei em voltar a trabalhar. Podia dar mil e uma razões mas vou dar 2 que me parecem determinantes: nunca acabei as 2 licenciaturas que comecei e por isso trabalhei em várias coisas que nunca me cativaram. Nunca me senti realizada, além de que o que ganhava nem dava para pagar a escola de 1, era o chamado trabalhar para aquecer.
    Na verdade não estou em casa com elas, estou sozinha mas estou disponível para todas as brincadeiras, passeios o que for quando chegam da escola, ou quando estão de férias.
    Bjo

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  4. E o que eu me ri com o teu "mai-novo" a despachar batatas fritas como se não houvesse amanhã?? :)))

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