Olho para os meus dois rapazes e sinto-me feliz, super completa, e uma mãe cheia de sorte. Mas continuo a achar que gostava muito de ter um terceiro filho. Gostava que o meu marido fosse pai de uma menina, que eu sei que adorava, e eu gostava de ter mais um rapaz ou uma rapariga. Se querem saber tanto me faz. O meu marido está mais reticente em relação ao terceiro filho, mas quando comprámos agora o carro novo consegui convencê-lo a comprar um monovolume 7 lugares, em vez de outra carrinha. Achei que era um sinal de que a família ainda ia aumentar mais. E ontem o maridão enviou-me este texto muito giro sobre o terceiro filho.
A verdade sobre ter um terceiro filho
Quando temos o primeiro filho, sentimo-nos o centro do universo: nunca ninguém teve um bebé antes, e este é o evento mais importante na história do mundo.
Somos capazes de dormir uma sesta todas as tardes e passeamos
orgulhosas de mão na barriga à espera do grande dia! Sentimo-nos calmas e
estamos sempre a rir. Adoramos as más disposições de grávida porque é
sinal de que o bebé está a crescer. Fazemos uma alimentação saudável, de
preferência com produtos biológicos, tomamos as vitaminas todas e não
bebemos álcool. Estamos informadas e avisadas. As pessoas fazem questão
de nos contar as suas histórias sinistras de partos complicados. O nosso
Obstreta fala connosco e seguimos os seus conselhos religiosamente.
As pessoas desdobram-se para ajudar nas compras, dão-nos as roupas
dos seus filhos que já não vão usar. E ficam, realmente, entusiasmadas
com a tua gravidez. Todos querem tocar-nos na barriga. E perguntam-nos,
onde quer que vamos “É o primeiro?” Quando dizemos que Sim recebemos um
grande e caloroso sorriso de boas vindas a este mundo novo da
maternidade. Dizem-nos que vai ser a melhor coisa que já nos aconteceu
na vida. E nós acreditamos.
Devoramos toda a literatura da especialidade, assinamos a “Pais e
Filhos” e outras revistas on line. Montamos o quarto do bebé, planeamos
como vai ficar, pintamos ou colocamos papel nas paredes. Passamos horas a
investigar qual a melhor espreguiçadeira baloiço, o melhor sling e os
melhores arneses. Protegemos todas as tomadas e esquinas da casa,
mudamos os detergentes para um armário mais alto e que, para abrir a
porta, é necessário inserir um código de 8 dígitos.
Cortamos cuidadosamente as etiquetas da roupa do bebé, e lavamos tudo
duas vezes com um detergente super-XPTO orgânico, amigo do ambiente, e
especial para a pele dos bebés. O meu filho não vai usar chucha, não vai
chupar no dedo, vai mamar para sempre. Vou virá-lo todas as noites para
não ficar com a cabeça achatada. Não vai assistir televisão até aos 8
anos, nunca vai ter telemóvel, nem piercings, e nunca vou deixar entrar
brinquedos ou roupa dos desenhos da televisão em minha casa, como o Ruca
ou a Dora.
Quando engravidamos do segundo filho, o mais velho é o centro do
universo. Já nos esquecemos de todas as coisas de bebé, e só podemos
gozar a gravidez à noite, quando o primogénito está a dormir. Nunca mais
dormimos durante o dia, porque o mais velho já deixou a sesta. Quando
entramos no 2ª trimestre de gravidez parece que estamos grávidas de 6
meses. Sentimo-nos stressadas e gritamos muito. Adoramos as más
disposições de grávida porque são um bom motivo para descansarmos um
bocadinho. Comemos os restos do prato do primeiro filho, tentamos não
beber álcool, e às vezes, lembramo-nos de tomar as vitaminas.
Ficamos saturadas com a informação e os conselhos. As pessoas fazem
questão de nos contar as suas histórias sinistras sobre os filhos que
fazem mal aos bebés. Esquecemo-nos de metade dos conselhos do nosso
Obstetra.
Os amigos que já não querem ter mais filhos começam a “despejar”, em
nossa casa, as coisas de que já não precisam. Quer precisemos ou não.
Todos querem tocar-nos na barriga. E perguntam-nos, onde quer que vamos,
“É o primeiro?” Quando dizemos que Não, afastam-se com um ar
desapontado…
Vamos buscar a literatura da especialidade, mas arrastamo-la por
semanas sem sequer conseguir dar-lhe uma vista de olhos. Recomeçamos a
ler a Pais e Filhos, mas agora interessamo-nos por outros tópicos, tais
como facilitar a adaptação do irmão ao bebé que vai nascer. “Expulsamos”
o mais velho da cama de grades, sem cerimónia, e dizemos-lhe que agora é
um crescido e, por isso, vai dormir numa cama de crescidos. Fazemos a
“reciclagem” dos brinquedos de bebé para perceber os que ainda dão para
aproveitar, lavamos os lençóis do berço, compramos uns autocolantes de
parede e um par de fraldas de recém-nascidos. Está feito o quarto do
bebé. Olhamos para as espreguiçadeiras-baloiço, os slings e arneses, e
questionamo-nos se vale a pena tirar aquilo da garagem. O nosso filho
mais velho já retirou todas as protecções das tomadas da casa e continua
vivo, por isso não as repomos. Os detergentes estão debaixo do
lavatório com um fecho anti-crianças.
Lavamos as roupas de bebé com detergente normal. Compramos um conjunto de bodies e
deixamos perto do berço. De certeza que vai dar jeito. Eles só vão
assistir à TV quando estivermos muito cansadas, resmungonas, ou a fazer o
jantar. Eles só vão ter uma consola quando tiverem 3 anos. Nunca vão
ter piercings. O Ruca e a Dora já fazem parte la de casa.
Já esquecemos tudo sobre planos de nascimento, e estamos ansiosas por
aqueles 3 dias no hospital para fugir ao caos de nossa casa. Vai saber
bem o descanso. Carregamos o telemóvel e verificamos se a net funciona,
pois pretendemos ficar toda a estadia no Facebook. Não vamos preocupadas
com o parto, mas questionamo-nos quanto à amamentação. Levamos
protectores de silicone e cremes para o peito. Pelos sim pelo não
levamos a bomba e dois biberãos. Só por causa das tosses.
Quando engravidamos do terceiro filho, o mais velho, em idade
pré-escolar, e o segundo, até agora o mais novo, acham-se o centro do
universo. Não sabemos que estamos grávidas até percebermos que aqueles
3Kg a mais não são graças ao apetite enorme que temos tido. Parecemos
umas mortas-vivas, e aprendemos a dormir as sestas de olhos abertos
durante as aulas de natação ou de ballet. Parece que estamos grávidas de
6 meses assim que acabamos de conceber. Só não estamos stressadas
quando estamos a dormir. E, quando estamos a dormir, ressonamos.
Andamos com sacos de vómito na mala para sobreviver às más
disposições da gravidez, e deitamo-los fora com as fraldas descartáveis.
A nossa refeição principal é o almoço. Todas as outras são a correr ou
não existem. Se os nossos filhos não comem salada nem vegetais, porque é
que nós havemos de comer? Nem sequer tentamos deixar de beber álcool,
até insistimos num copo de vinho, mas sabe pessimamente, e
enfrascamo-nos em baldes de leite com chocolate. Compramos vitaminas no
dia em que descobrimos que estamos grávidas, e esquecemo-nos de as tomar
durante toda a gravidez. Redefinimos a palavra “eternidade” baseadas
nas constantes perguntas do filho mais velho sobre se “é hoje que o bebé
nasce?”
Ninguém se dá ao trabalho de nos dar conselhos ou informações sobre
bebés. Todos pensam que somos loucas ou irresponsáveis. E assumem que
foi um acidente. Olham-nos de soslaio no supermercado quando nos vêem
com dois miúdos, mais um a caminho, 2 cachos de bananas e vários
iogurtes. As pessoas fazem questão de nos contar as suas histórias
sinistras sobre os filhos do meio que acabaram por se tornar psicopatas.
Ou políticos. Vemos o Obstetra no dia do parto.
As amigas que já não vão ter mais filhos, já perderam peso, estão
giras, com um ar descansado e relaxado. Podem sair à noite e ter vida
social. Não sentem nada mais do que pena por nós.
Perguntam-nos, onde quer que vamos “É o primeiro?” Quando dizemos que é o terceiro, riem-se à gargalha e vão-se embora.
Já não temos nenhuma literatura de especialidade como tínhamos, e já
não há dinheiro para pagar assinaturas. Folheamos diversas revistas à
espera de nos inspirarmos sobre o nome da criança. Tiramos o segundo
filho da cama de grades num ápice, e treinamo-lo a largar as fraldas
ainda antes de nascer o bebé. Se tudo correr mal, vamos a rapidamente
comprar outra cama de grades.
Vamos desencantar fraldas de recém-nascido que tinham sobrado dos outros, e pomos junto ao berço. Está feito o quarto do bebé.
Olhamos para o enxoval do bebé, que já passou pelos irmãos, e embora
coçadinho, vai ter de dar. Instalamos uma TV no quarto dos miúdos.
Nunca vão ter piercings antes dos 16 anos. A Dora e o Ruca estão por
todo o lado….
O bebé nasce. E há-de ir para o infantário.
Este filho vai fazer-nos perceber a quantidade de amor de que um
coração humano é capaz. Vamos olhar para os mais velhos com outros
olhos, e perceber o doloroso que é estar longe deles. Vamos olhar para o
nosso marido e ficar eternamente gratas por estes três maravilhosos
filhos que ele nos deu, e desculpá-lo por (quase) tudo o resto. A nossa
vida é agitada, confusa e barulhenta, alguns gritos, frustrações e
muito amor. Teremos muitos daqueles momentos de cortar a respiração,
aquelas experiências únicas, aqueles dias fantásticos que fazem com que
nunca nos venhamos a arrepender das escolhas que fizemos.
traduzido e adaptado por
Up To Lisbon Kids,
Up To Lisbon Kids,
artigo original de Shannon Meyerkort
@Scay Mommy
@Scay Mommy
Podes crer que é muito assim. Na verdade o terceiro filho é realmente em maioria não planeado :) E olham para nós, tanto tanto. Eu sinto isso, porque tenho ainda outro tão bebé. Boa sorte e já sabes que admiro quem avança para um terceiro com os outros tão pequeninos, requer mesmo coragem.
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