Fazia muitas vezes esta viagem de comboio. Na estação, na linha da Beira Alta, tinha sempre o meu pai à minha espera ou a despedir-se. Parece que o estou a ver... A última vez que fiz esta viagem foi há muito tempo, ainda ele era vivo e eu solteira, sem filhos, mas não sei se foi há 17 ou 20 anos ... sei que foi há muito, muito tempo. Estar na sua casa da serra, rodeada da sua presença e fotografias, passar no cemitério onde está, no jazigo da nossa família, e apanhar este comboio trouxeram-no tanto à minha memória... como eu gostava de reescrever a nossa história, que nem sempre foi fácil, que não teve direito a despedidas, nem a um adeus... E hoje reencontrei-o naquela estação, com o seu casaco de urso, como eu dizia, um casaco quente, castanho, forrado a pêlo, de um tempo em que na serra os invernos ainda eram frios e eu ainda tinha o meu pai.
Comentários
Enviar um comentário
Gosto de saber o que as outras vidas têm a dizer sobre isto!