Ouvi falar do períneo, há mais de 6 anos, quando frequentava as aulas de ginástica pré parto e fiz o curso e workshops de preparação para o parto. Mas em Portugal fala-se pouco, não é um assunto muito abordado... Partilho aqui um excerto de um texto que me parece muito interessante:
Cuidar da saúde do períneo, artigo completo aqui.
"O
períneo desempenha uma função fundamental, em particular na saúde da
mulher. É um conjunto de músculos que são especialmente solicitados
durante a gravidez e o parto, já que têm a função de sustentar o útero, a
bexiga e o reto. Estes músculos encontram-se nas proximidades da
uretra, da vagina e do ânus, estando localizados na parte inferior da
bacia, entre o osso púbico e o sacro e cóccix.
As alterações hormonais e morfológicas que o corpo sofre durante a
gravidez podem levar a problemas graves no períneo, também chamado
pavimento pélvico. O ideal é que antes da gravidez ou no primeiro
trimestre a mulher realize uma avaliação com um especialista adequado.
A fisioterapeuta, especialista em Uroginecologia, Laira Ramos explica
o motivo: «O útero da mulher pesa em média cinquenta gramas, enquanto
na gravidez chega a pesar cinco quilos». Isto faz com que este período
leve a uma sobrecarga significativa no pavimento pélvico. Daí que, pelo
menos três meses antes de se engravidar, seja importante assegurar a
capacidade destes músculos suportarem a carga de peso adicional. «É
importante lembrar que devem ser músculos avaliados e tratados como
quaisquer outros do nosso corpo», frisa.
Incontinência urinária, incontinência fecal, prolapsos (descidas dos
órgãos), obstipação, dores pélvicas ou disfunções sexuais são alguns dos
problemas, cuja origem se encontra no enfraquecimento ou lassidão da
musculatura do períneo.
O período pré-natal
As mulheres devem contrair o seu períneo desde a puberdade e ao longo
da sua vida. «Por exemplo, na Índia as meninas fazem isto desde sempre!
É um hábito cultural, uma rotina como outra qualquer», afirma Laira
Ramos, fundadora do site www.perineo.info. Já no Ocidente, por motivos
de índole social e cultural, a esmagadora maioria das mulheres não tem
esta consciência corporal ao longo da vida. Como explica, as pessoas
geralmente não estão despertas para tal necessidade e muitas das que a
conhecem não sabem «onde» e «como contrair».
Segundo a terapeuta, existem diferentes formas de aprender a fazer
contração do períneo. São os fisioterapeutas, com formação específica,
que geralmente acompanham o processo de aprendizagem. O principal
desafio é conseguir que haja, da parte da mulher, a perceção e a
sensibilidade para contrair os músculos corretos.
Na consulta, realiza-se o toque vaginal ou introduz-se uma sonda
dentro da vagina para ajudar a mulher a ter a percepção necessária para
contrair e para relaxar os músculos de suporte do útero, da bexiga e do
recto. É assim que, na fisioterapia, se aprende a realizar correctamente
os também chamados exercícios de Kegel. O mais importante é que haja,
em casa, uma continuidade do trabalho realizado na consulta com o
profissional, acrescenta a especialista.
Hoje em dia começam a surgir outras técnicas que ajudam a exercitar o
pavimento pélvico no dia-a-dia. É o caso dos cones vaginais, com
diversos pesos, que se introduzem na vagina e ajudam na contracção dos
músculos internos durante os exercícios.
O períneo e o parto
Em alguns ginásios para grávidas e nos centros de preparação para o
parto são também ensinadas estas técnicas de fortalecimento do pavimento
pélvico.
Há já profissionais de centros especializados no período da gravidez a
ensinar a auto-massagem do períneo e da vagina, com óleos adequados
para a mulher. São diversas as vantagens desta rotina no contexto da
gravidez, garantem vários autores especializados em livros técnicos:
ganho de maior elasticidade dos músculos e dos tecidos da vagina para o
parto, aumento do espaço na vagina para a fase de expulsão, redução da
incidência de lacerações e diminuição da sensação de mal-estar e ardor
na passagem do bebé pelo canal vaginal.
No pós-parto
Após a consulta do pós-parto e com a autorização do médico obstetra,
as mães podem procurar um fisioterapeuta especialista para realizar uma
avaliação dos músculos do períneo.
A fisioterapia ajuda ainda a aliviar e a tratar eventuais sequelas do
parto, como por exemplo as cicatrizes originadas por uma episiotomia. É
uma técnica que consiste no corte do períneo para alargar o espaço de
saída do bebé, causando geralmente muita dor e incómodo nos primeiros
tempos a seguir ao nascimento.
As Recomendações para o Parto da Organização Mundial de Saúde (OMS)
consideram, o uso liberal e rotineiro da episiotomia, uma conduta
frequentemente utilizada nas salas de parto de uma forma inadequada.
Ainda assim, e de acordo com profissionais no terreno, muitas mulheres
necessitam de recorrer ao tratamento de cicatrizes da episiotomia ou de
lacerações espontâneas. Estes tratamentos têm o objetivo de reabilitar o
pavimento pélvico e aumentar a força desta musculatura, tendo em vista a
prevenção de patologias posteriores na mulher.
Corrigir a postura, tratar edemas (com drenagem linfática) e promover
o bem-estar geral da mãe, num momento de grandes mudanças, são outros
recursos que a fisioterapia oferece hoje em dia."
Eu nunca dei grande importância a este assunto. Sempre fiz os exercícios nas aulas de ginástica de grávidas, mas mal saía do centro, nunca mais me lembrava. Mas agora, grávida do terceiro filho, sinto que preciso mesmo de fortalecer o meu pavimento pélvico. E porquê? Porque no outro dia, a meio de um ataque de tosse, senti perda de urina. São umas gotinhas, mas é desconfortável e preocupante. E já voltou a acontecer. Já falei com a professora de ginástica que diz que é frequente isto acontecer, principalmente nas gravidezes de segundo, terceiro, quarto filho... e por aí em diante. Não é normal, não deveria acontecer se o períneo estivesse fortalecido, mas a verdade é que acontece, até porque muitas vezes vamos de uma gravidez para outra, ainda com os músculos enfraquecidos e com bebés de colo... Por isso, agora sempre que me lembro aperto os músculos do períneo para os ir fortalecendo. É uma situação chata, mas tem solução ou durante a gravidez, tentando ainda fortabelcer os músculos ou depois no pós parto com fisioterapeutas especializadas em saúde da mulher.
Parece que nos países nórdicos todo e qualquer pós parto há consultas de fortalecimento do períneo, comparticipadas pelo estado, porque este é um assunto importante que compromete a qualidade de vida das mulheres.
Por cá fala-se pouco, há muita vergonha associada e ainda é um pouco tabu. Mas eu cá não sou mulher de vergonhas e, acima de tudo, gosto de estar informada e bem de saúde!
Deixo-vos ainda mais um link para um artigo também muito interessante da Pais&Filhos, aqui.
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