Ainda tinha uns álbums de fotografias em casa da minha mãe (de onde eu saí há mais de 10 anos, mas enfim...) e hoje estive a folheá-los antes de os trazer para casa. E vi os meus e os da minha irmã. A minha irmã mais nova e única irmã, que depois da morte do meu pai se virou contra mim e nunca mais a nossa relação foi a mesma. Ela sofreu horrores naquele ano de 2010 (3 meses antes do nosso pai morrer tinha-lhe morrido o marido vítima de câncro) e, desde então, nunca mais foi a mesma. E 2010 apesar da enorme tristeza da morte do meu pai foi um ano de alegria e ficará sempre marcado pelo nascimento do meu primeiro filho. E se ela já era uma pessoa calada, calou-se e fechou-se completamente. Hoje ao ver as fotografias daquela menina linda, lorinha e sorridente não consigo encontrar lá a minha irmã envelhecida, magra e cinzenta em que se transformou. Culpa-me por ter sido a menina do papá e de não o ter chorado como devia e culpa-me por não a ter apoiado como ela merecia quando o marido morreu. Já lhe expliquei que tinha o meu primeiro filho com 3 meses e que fiz o melhor que sabia e que conseguia. Não lhe chegou e isso afastou-a. Não gosta de estar comigo, com o meu marido e com os miúdos, incomodamo-la. Adora o meu filho mais velho, mas vai vê-lo à minha mãe e nunca a nossa casa. Ela teve uma grande depressão (e legítima, é óbvio, porque foi uma machadada muito dura), tem tido altos e baixos, mas nunca mais fomos irmãs, manas... Quando estamos juntas há uma barreira. Tudo muito cordial (agora, que houve alturas já negras), mas nada mais do que isso... Quando o nosso avô morreu em Janeiro deste ano o fosso ficou ainda maior, porque também eu era, segundo ela, a preferida do meu avô. E eu fico triste, muito triste, ao ver as nossas fotos de miúdas, aos ver os meus pais jovens e felizes e a pensar que já nada daquilo existe. O meu pai morreu sem avisar, a minha mãe foi-se muito abaixa e foi como se lhe tivessem tirado o chão, porque sempre foi só mãe e esposa e nunca tinha tomado decisões na vida e a minha irmã perdeu a vontade de ser feliz... E eu fico triste com o que aconteceu àquelas quatro personagens. Se o guião fosse meu, tinha-lhes dado um rumo diferente... Em relação ao meu pai não há nada a fazer, mas ainda tenho esperanças que a minha irmã volte a sorrir e a ser a loira gira que era em miúda... E que volte a gostar de mim e de estar com a família que construí...
Eu não sei se a tua irmã teve oportunidade de construir família antes de perder o marido, mas quem perde (marido/filhos/pais/alguém importante) fica sempre com mágoa da vida e a felicidade dos outros pode incomodar, pode mesmo magoar... Não que não queiram que os outros sejam felizes... elas também "só" queriam ser felizes...
ResponderEliminarE também é comum em lutos mal feitos a culpa ter que ser de alguém... O não ter a quem culpar também pode magoar...