Não conheço a Marisa Barroca, da Associação Mercado dos Santos, mas admiro imenso o trabalho que ela desenvolve e já há bastante tempo que mantemos contacto... Em conversa, a propósito da doença da filha dos meus amigos e da total falta de apoio social que existe nestes casos para que os pais possam acompanhar os filhos o tempo que a doença durar, fiquei a saber que muitas das famílias que a Associação Mercado dos Santos apoia são famílias que se viram em situação de carência e desemprego na sequência da doença dos filhos... E quis saber um pouco mais e quis partilhar aqui muito do que surgiu com a nossa conversa. Porque na minha ingenuidade nunca pensei que o máximo de tempo contemplado fosse 1 mês! E acredito que não sou a única que acreditava que os apoios eram outros...
Artigo 49.º - Falta para assistência a filho
1 — O trabalhador pode faltar ao trabalho para prestar assistência inadiável e imprescindível, em caso de doença ou acidente, a filho menor de 12 anos ou, independentemente da idade, a filho com deficiência ou doença crónica, até 30 dias por ano ou durante todo o período de eventual hospitalização.
E o que fazem os pais, quando estão perante doenças e internados de meses? Quando não sabem se os filhos resistem mais um dia? Quando têm outros filhos para alimentar? Muitos destes pais são despedidos. E não há um estado que os ajude? Não há uma segurança social que permita que pais acompanhem filhos bebés, crianças e jovens enquanto estes fazem quimio e enfrentam o cancro? Além do medo e de tudo o que envolve ter um filho entre a vida e a morte ainda têm de se preocupar com a renda da casa, com a conta da luz? Pais que sempre trabalharam, descontaram e foram cidadãos como qualquer um de nós encontram-se em situações de miséria porque os patrões não estão dispostos a permitir que eles faltem mais do que o previsto... O que é isto? Felizmente os meus amigos estão a ter o apoio a 100% das entidades patronais (e a minha amiga no outro dia cá em casa perguntava: mas até quando?), mas a realidade mais comum não é esta... Grande parte são despedidos. E muitos não têm rede familiar e de amigos que os ajude... E fiquei chocada com a falta de apoios e de ajudas que estas famílias têm, e fiquei a saber que a Associação Mercado dos Santos faz a diferença entre haver ou não comida em muitas destas casas... É a diferença entre uma criança poder ir para casa entre os ciclos de quimio ou ter de continuar internada porque em casa não têm como lhe dar de comer ou ter a casa aquecida ou limpa de forma asséptica de modo a evitar as complicações e infecções... Dá vontade de chorar, não dá?
Partilho convosco a "entrevista" que fiz à Marisa Barroca:
Como
surgiu a Associação Mercado dos Santos? O Mercado dos Santos nasceu de uma homenagem
a um menino que faleceu vitima de leucemia, o Paulinho filho do produtor de
teatro Paulo Sousa Costa. Nasceu da vontade de mudar o mundo, de o tornar mais
justo. Sabemos bem que mudar o mundo não está nas nossas mãos, mas acreditamos
sempre que podemos fazer a diferença no mundo de quem se cruz connosco e no
nosso mundo individual.
Que
famílias apoiam? Começamos por famílias que recorriam ao
Mercado para organizar recolhas de fundos para tratamentos a doenças oncológicas
graves. A crise instalou-se e começamos por receber pedidos de apoio de
famílias com crianças doentes, depois as restantes, a quem o desemprego roubou
a estabilidade e tirou os bens essenciais de casa.
Que
casos têm em mãos? Neste momento apoiamos uma Associação que faz
a animação na Pediatria Oncológica do Hospital de São João, apoiamos os meninos
internados e os que estão em ambulatório. Temos o João, uma criança que sofreu
queimaduras graves aos 5 anos, a mãe com um historial de depressão com duas
tentativas de suicídio. Temos um casal de idosos, os dois doentes oncológicos
que sobrevivem da nossa ajuda porque a pensão que recebem no valor de 250€ não
chega para as despesas básicas. E várias famílias a viver situações de
desemprego, que ajudamos na procura activa de emprego, no apoio com alimentos e
roupa, no pagamento de contas em atraso, na medicação. O apoio tem sempre por
base a análise social do caso e a ajuda atribuída depende sempre da resposta da
família aos anúncios de emprego que vamos recebendo. O Mercado dos Santos tem
sempre este cuidado, ajudamos quem se quer levantar, nunca os subsidio
dependentes.
Como
é que as famílias chegam até vós? Chegam através dos voluntários da Associação
que faz a animação hospital, de professores amigos espalhados por dezenas de
escolas, por técnicos de apoio social das Juntas de Freguesia, por amigos do
Mercado dos Santos a quem pedimos sempre para estar atentos à pobreza escondida,
aquela que mais nos assusta.
Como
e com o quê é que apoiam as famílias? Apoiamos com alimentos, com medicação, no
pagamento das contas relacionadas com a habitação, na procura activa de
emprego, na procura de formação que permita dar mais ferramentas para o mundo
do trabalho.
Quantas
famílias apoiam? Neste momento entre 15/20 famílias, este
numero vai variando consoante a colocação no mercado de trabalho, o estado de
saúde, é impossível prever o que pode acontecer na próxima semana.
Além
do vosso apoio, que ajudas é que estas famílias têm? Não queria ser dura com a política social do
nosso país, mas… nenhumas a não ser a de amigos e familiares. Para o nosso
governo, as famílias com rendimentos de trabalho são consideradas ricas, perdem
acesso aos apoios que são dados, neste momento, apenas aos subsidio
dependentes, esses sim tem direito a todas as prestações sociais, ao não
pagamentos das despesas escolares, à isenção das taxas moderadoras, a casas com
rendas sociais, a redução na conta da luz. Aliás importa dizer que aumentamos
as prestações sociais dos abonos em 2017 mas não criamos uma rede de creches
que permita que as pessoas vão trabalhar. Este governo e os anteriores estão
constantemente a criar subsidio dependentes, gente que sabe que se tiver filhos
até aos 3 anos, por falta de creches no sistema público, nunca será chamado a
trabalhar.
Sei
que muitas das famílias que apoiam vêm em situações de desemprego devido a
doenças prolongadas dos filhos, nomeadamente doenças oncológicas... Como é que
não há verdadeira protecção social nestes casos? O que é que podemos fazer para
ajudar estas famílias que sempre trabalharam e contribuíram e que no momento em
que mais precisam o estado lhes vira as costas? Não há mesmo, basta olhar para o regime de
baixas médicas da SS para perceber que um pai ou uma mãe só recebe subsídio, e
este corresponde apenas a 60% do seu vencimento, durante 30 dias, em crianças
até aos 12 anos de idade, ou sempre que estiver hospitalizado. No nosso país os
pais que deviam estar concentrados no apoio à criança, a quem já basta toda a
dor que a doença acarreta, tem que se preocupar com as contas para pagar, tem
que viver com o medo de não ter para alimentar a família, porque o estado
social continua a preferir canalizar verbas para os que nunca contribuíram nem
o pretendem fazer. O que temos a fazer, primeiro apoiar, criar uma rede de
amigos e de familiares que apoie as famílias, que convivem com o cancro todos
os dias e que por força da legislação perdem os seus rendimentos, dar um
abraço, dizer estamos aqui, levar uma sopa quente à porta do hospital, uma
fatia do bolo que sabemos que gostam, ir buscar as outras crianças, quando
existem, deixá-las ser crianças. E depois revoltar-nos, passar a mensagem,
mostrar que vivemos num estado social que deixa estes pais à margem, que lhes
tira o tapete quando mais precisam, quando foram eles que contribuíram e são
eles que com os seus impostos pagam aos subsídio dependentes para estar apenas
e só sentados no café, a actualizar as redes sociais. Eu e o Mercado fazemos a
nossa parte, todos os casos de subsídio dependentes analisados e comprovados
são denunciados e nunca são apoiados por nós. Importa dizer que já negamos
apoios a pedidos que nos chegaram através das Juntas de Freguesia, de pessoas a
receber subsídios que quando tentávamos colocar no mercado de trabalho se
recusam porque o ordenado pago é igual ou inferior aos subsídios recebidos.
Tiram as vossas conclusões…
Se ficaram sensibilizados como eu fiquei ajudem a Associação Mercado dos Santos. Juntem-se a mim e vamos criar um grupo de entreajuda para apoiar a Associação a fazer os próximos cabazes que vão ser entregues às famílias no Natal. O que me dizem? Para isso basta que quem por aqui passa faça uma contribuição IBAN/NIB:PT50 00460190006002336415 5) e na transferência coloquem o nome deste blog! Conto com a vossa ajuda? Vamos fazer a diferença? E não é preciso dar muito. Se cada pessoa que aqui vem der 1€ já é uma grande ajuda para a Associação. O importante é não ficarmos indiferentes ao que se passa à nossa volta.
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