Já aqui contei como o meu filho Afonso é feliz a treinar no Benfica. Como um miúdo tímido e envergonhado, que se agarra às nossas pernas sempre que chegamos a uma festa num ambiente menos conhecido, que não gosta de dar beijos nem de cumprimentar... este miúdo chegou ao treino e lá foi ele. Sem medos, sem vergonhas, sem nervos nem dedos na boca. E tem sido assim todas as semanas, contra o que poderíamos imaginar... Foi ele que quis ir e nós acedemos porque é uma boa prática, ajuda ao desenvolvimento e dá-lhe alegria. Mas enquanto esperava nas bancadas, enquanto ia sorrindo e acenando, interferindo ao mínimo, constatava que há ali crianças quase obrigadas, crianças que choram, que não obedecem aos "mister", que se afastam, que refilam... E há pais nas bancadas a intervir, a gritar lá para dentro, a dar ordens... No último treino, ouvi: "vai lá, vai treinar, que quando sairmos a mãe dá-te uma prenda que tem no carro!" O miúdo nem quis saber e continuou na dele, sem participar e ignorando o treinador. A senhora continuava a apregoar a tal prenda. A senhora que estava com ela, que me pareceu ser a avó, pergunta: tens uma prenda no carro? E a outra ri e diz: "não, mas ele não sabe. e compro depois o que ele quiser!". Levar as crianças a fazer o que nós queremos porque lhes damos um presente parece-me perigoso para a educação, prometer um presente a uma criança, mentindo-lhe, parece-me uma quebra de confiança no vínculo entre a mãe e a criança. Os miúdos pequenos, estamos a falar de crianças de 3, 4, 5 anos, devem jogar futebol porque lhes dá gozo, porque faz bem, porque têm jeito... não porque as mães querem ser as futuras Donas Dolores. Estar nas bancadas dos treinos de futebol dos mais pequeninos é toda uma experiência sociológica!
Tudo verdade o que relata diz uma mãe que anda nisto há 6 anos. A grande verdade é que o grave problema no futebol de formação começa nos pais e depois na competitividade das próprias escolas e infelizmente os lesados serão sempre as crianças. Essas crianças a quem os pais/mister tantas vezes dizem: Cresce! E vão ser crianças quando?
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